segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Breve Pontifico dado ao Bispo de Aveiro pelo Papa Pio VII sobre o uso de Unto ou Pingo de Porco

Pastoral  de 20 de Fevereiro de 1804 do Bispo de Aveiro, em consequência dos Breves Pontificos dirigidos ao ao Exmo Bispo de Aveiro pelo Papa Pio VII em 9 de Setembro de 1803 e 13 de Janeiro de 1804
Dom António José Cordeiro por Mercê de Deus, e da Santa Sé Apostólica, Bispo de Aveiro, e do Conselho de Sua Alteza Real o Príncipe Regente Nosso Senhor, etc.
 Aos Reverendos Párocos, Clero, e Povo do Nosso Bispado Saúde e Paz em o Senhor.
Tendo-nos sido propostas, tanto que entrámos pela primeira vez na Nossa Diocese, as questões a que os Reverendos Confessores e Directores das Consciências dos Fieis se suscitavam frequentemente sobre o uso antigo que havia no Distrito de Vale de Cambra deste Nosso Bispado, de temperarem os Povos dele as suas comidas com Unto, ou Pingo de porco entrámos no exame e averiguação deste uso, da sua extensão, e das suas causas; e achámos que o mesmo uso se havia estendido modernamente a muitas outras Freguesias do nosso Bispado, aonde nunca o tinha havido, e que nas Freguesias aonde ele era antigo muitas pessoas de timorata consciência praticavam o mesmo uso com escrúpulo de consciência, em razão dos diversos Pareceres dos Reverendos Párocos e Confessores, e mesmo da autoridade de um Visitador, que arbitrariamente e sem ordem do Nosso Exmo. Antecessor, passou a condenar aquele uso antigo nos capítulos que estabeleceu em algumas Igrejas.
E desejando Nós por uma parte evitar os escrúpulos dos Povos do mesmo Distrito, e os escândalos e pecados que os de outras Freguesias cometiam usando do Unto, ou Pingo de porco, não havendo nessas mesmas Freguesias o antigo e legítimo, uso do sobredito Distrito; e pela outra parte ocorrer à necessidade e pobreza da maior parte dos Povos do Nosso Bispado, que não podem comprar azeite por falta de dinheiro, e por ter chegado a excessivo preço o dito género. Dirigimos as Nossas suplicas ao Santíssimo Padre e Senhor Pio VII. para que nos concedesse a Faculdade Apostólica de podermos dispensar com todos os que se acharem no Nosso Bispado, ou sejam naturais dele ou de fora, no tempo que estiverem neste Nosso Bispado, a fim de licitamente e com boa consciência poderem, dentro do Bispado somente, temperarem as suas comidas com Unto, ou Pingo de porco, nos dias de abstinência tanto ao jantar como à ceia, e nos dias de jejum somente ao jantar, guardando em tudo o mais a forma do jejum, as quais suplicas foi o mesmo Santíssimo Padre servido benignamente atender pelos Seus Breves, datados de 9 da Setembro de 1803, e de 13 de Janeiro deste ano de 1804, cometendo ao Nosso arbítrio e consciência o dispensarmos na forma que fica exposto: pelo que usando da Autoridade e Faculdade Apostólica que nos é concedida nos sobreditos Breves, havemos por bem dispensar e conceder a todos os que estiverem ou se acharem dentro dos limites do Nosso Bispado, tanto Seculares como Eclesiásticos, e ainda Regulares de um e outro sexo (excepto tão somente aqueles que por voto solene são obrigados a abster-se de comidas de carne), que possam legitimamente e sem escrúpulo algum de consciência usar do dito Unto, ou Pingo de porco, nos dias de abstinência tanto ao jantar como à ceia, e somente ao jantar nos dias de jejum, ainda que seja Têmporas, ou Vigílias, ou Quaresma , sendo obrigados a jejuar; porquanto aos que não tiverem obrigação de jejum permitimos o dito uso também à ceia.
   Exortamos porém a todos, que nos seis dias da Semana Santa se abstenham do uso do Unto, ou Pingo de porco, por serem dias em que deve haver maior austeridade e mortificação, renovando-se neles a memoria dos principais Mistérios da nossa Religião, e da Paixão e Morte de Nosso Senhor, Jesus Cristo.
E para que chegue à notícia de todos Mandámos sob pena de obediência, aos Reverendo Párocos, que depois de registarem nos Livros das Pastorais esta Nossa Ordem Circular, a publiquem no primeiro dia de preceito ao Povo na Estação da Missa, e a façam publicar nas Capelas dos Lugares que tiverem Capelães; e todos os anos em um dos Domingos próximos à Quaresma tornaram a ler a mesma Ordem per si na Igreja Paroquial, o pelos Reverendos Capelães nas Capelas dos Lugares da respectiva Paroquia. 
Dada em Aveiro sob Nosso Sinal, e Sêlo das Nossas Armas aos 20 de Fevereiro de 1804.
= António, Bispo de Aveiro.

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