Paróquia da Vera Cruz de Aveiro

    A Paróquia da Vera Cruz de Aveiro foi criada em 10 de Julho de 1572, pela divisão da primitiva paróquia de São Miguel de Aveiro em quatro freguesias distintas. É, na actualidade, uma das duas paróquias correspondentes ao núcleo central da cidade de Aveiro, anexando, por alvará de 11 de Outubro de 1835,  a antiga freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Aveiro.

   A sua igreja paroquial é hoje a Igreja de Nossa Senhora da Apresentação de Aveiro, outrora igreja paroquial da extinta freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Aveiro.

   Tem anexas mais cinco capelas da sua jurisdição, a saber: a Capela de São Gonçalo de Aveiro, no Bairro da Beira-Mar; a Capela de Nossa Senhora da Febres também denominada de São Roque de Aveiro, junto ao canal de São Roque; Capela de Nossa Senhora da Alegria também denominada de São Sebastião, antiga sede da antiquissima Confraria de mareantes e pescador de Santa Maria de Sá; e a Capela do Senhor Jesus das Barrocas.

 Tem Centro Social Paroquial da Vera Cruz, em edifício anexo à igreja paroquial, instituído em 1 de Fevereiro de 1972. Tem a instituição Património dos Pobres, instituída em 11 de Março de 1969. Tem o agrupamento de Escuteiros 283, tendo como Patrono São Gonçalo. 

   À freguesia da Vera Cruz, após a divisão paroquial de 1572, ficou então a pertencer o território compreendido entre a ponte das Almas, no canal central, a Rua Larga e a Rua do Vento até ao fim, a ria, o ribeiro das Barrocas, o lugar de Sá e ainda parte dos lugares da Forca, da Presa e da Quinta do Gato, prosseguindo o limite pelo canal do Côjo até à dita ponte das Almas. Desta forma, tinha como confinantes as freguesias de Nossa Senhora da Apresentação a ocidente, de Esgueira a norte, e de São Miguel a sul. Contudo, no foro judicial, quase todo o lugar de Sá pertencia a Ílhavo. 

Igrejas correspondentes à anterior freguesia da Vera Cruz de Aveiro no século XVIII 
Fonte: IGC – Fragmento do mapa “Planta da Cidade de Aveiro” 1780-81 (IGP, nº390)

   A sua primitiva igreja paroquial, sita no Largo de Maia Magalhães, popularmente chamado "Largo da Vera Cruz", estava a construir-se em 1576 e ainda em 1600. Nos finais século XIX, dado o seu adiantado estado de ruína, o edifício acabou por ser demolido, em obediência à decisão de Dezembro de 1876, para em seu lugar se edificar um novo templo que, tendo-se interrompido a obra por falta de recursos financeiros, viu as suas paredes, já na altura da cimalha,  apeadas em 1945 pelo camartelo municipal. Entretanto, a sede da paróquia, a administração dos sacramentos e o culto litúrgico haviam sido transferidos provisoriamente, enquanto durasse a empreitada de construção, para a vizinha igreja de Nossa Senhora da Apresentação. Desde então, até hoje, a sede paroquial permaneceu na Igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação, actualmente a única das matrizes da cidade de Aveiro a escapar da total demolição. 

   Segundo a descrição de Rangel de Quadros, a demolida igreja matriz da Vera Cruz era vasta e de três naves, formadas com cinco arcos de cada lado, sendo semelhante às de Salreu e de Angeja. O tecto da capela-mor, que continuava para a sacristia que lhe ficava por trás, desenvolvia-se em abóbada de pedra calcária em caixotões, e fora enriquecida com florões e figuras alegóricas, na mesma pedra, dos quais existem na actualidade algumas peças no Museu de Aveiro. Encostadas às colunas em que assentava o arco-cruzeiro, estavam, sobre peanhas, duas estátuas dos Apóstolos São Pedro e de São Paulo, que hoje existem também estão no mencionado Museu. O dito arco, era ornado com uma bonita sanefa de talha dourada com florões, executada em 1846, que, após a demolição do templo, foi vendida para a igreja paroquial de Salreu. O retábulo principal, que já não era o primitivo, foi transferido para a igreja paroquial de Nossa Senhora da Glória, ex convento de São Domingos de Aveiro, onde se encontra. Além do retábulo-mor, o templo tinha os seguintes retábulos: junto ao arco-cruzeiro, o altar do Senhor do Terço ou do Senhor Jesus do Bendito e o altar de Nossa Senhora da Luz; no corpo da igreja, o altar das Almas ou de Nossa Senhora dos Anjos, a que correspondia, no lado oposto, a capela e altar do Santíssimo Sacramento.

   Ao anexar a freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Aveiro, em 1835, ficou a pertencer-lhe também o território compreendido entre o Canal Central da ria e toda a zona de marinhas, a que hoje chamamos o Bairro da Beira-Mar, anexando também o território da praia de São Jacinto. A maior parte dos pescadores e mareantes de Aveiro e trabalhadores das marinhas de sal, marnotos, viviam nesta península extramuros da então fortificada Vila, arrabalde que veio a denominar-se Vila-Nova de Aveiro[1]. Este lugar, situado ao norte do prolongamento do Esteiro da Ribeira e do Côjo, hoje o Rossio de Aveiro, tinha como principal eixo a rua longitudinal, que unia a Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação à Freguesia da Vera Cruz desde o extremo desta península ao lugar denominado de Sá, limite de fronteira com a Vila de Esgueira.
Igrejas correspondentes à extinta freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Aveiro
Fonte: IGC – Fragmento do mapa “Planta da Cidade de Aveiro” 1780-81 (IGP, nº390)

   Esta rua, que originariamente se chamou de Rua Torta, composta por quatro ruas, ruas dos ourives, rua de São Paulo, rua do Carmo e rua de Sá, veio a chamar-se-ia com o correr do tempoRua da Vila Nova, Rua da Vera Cruz e actualmente Rua de Manuel Firmino. 

   Já num documento de relação das propriedades que o Mosteiro de Santa Cruz[2] de Coimbra possuía em Aveiro, datado de 1431, aparece para esta região a toponímia distinta de propriedades em billa noua da par daueiro, de propriedades no logo. de saa. e propriedades na. agra de saa a sancta cruz. Também pela documentação pertencente à antiga Confraria de Pescadores de Santa Maria de Sá, no seu livro de Tombo em parte transcrito por Marques Gomes[3], encontramos a referência de Vila Nova de Aveiro, num documento datado de 1441. Nesta documentação verificamos conflitos que remontam pelo menos ao início do séc. XV, entre as gentes do concelho (da vila muralhada) e os de Vila Nova (maioritariamente pescadores, residentes fora das muralhas), por querelas relacionadas sobretudo com a comercialização do pescado[4]

[1] NEVES, Francisco Ferreira - A Confraria dos pescadores e mareantes de Aveiro (1200-1855), A. D. A., vol. 39, 156 (1973), pp. 242-243 [2] in Milenário de Aveiro – Colectânea de Documentos Históricos I – 959 a 1516, Aveiro, Ed. Câmara Municipal de Aveiro, 1959. p. 170 [3] GOMES, António Marques – Subsídios para a História de Aveiro, Aveiro, 1899. p.24-25 [4] in Milenário de Aveiro – Colectânea de Documentos Históricos I – 959 a 1516, Aveiro, Ed. Câmara Municipal de Aveiro, 1959. p. 163